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quinta-feira, 11 de junho de 2009

Confissão


Há dias matei um bonsai.
Pronto, está dito!

Uma Chamaecyparis obtusa nana gracilis, nem mais nem menos! Tinha mais de 7 anos de idade e era da família dos ciprestes. Em casa era tratada por Chaminha.

Foi um bonsaicídio involuntrário, tenho que dizer em minha defesa. Assumo que eu o matei porque não acredito na hipótese de suicídio, embora, palavra de honra!, tenha feito tudo o que os meios mais entendidos nestas anãs, recomendam a alguém que assume a responsabilidade de as adoptar. Nunca lhe faltou terra húmida, folhinhas borrifadas uma vez por dia, lugar frente a uma janela com luz directa, todos os mimos...Um zêlo, como mandava a cartilha, que até já tinha gerado lá em casa alguns comentários menos abonadores da minha normalidade!

Ao apará-la com a minha tesoirinha própria (acho eu, pois tinha uma forma anormal e vinha no kit-bonsai!), deixei-lhe três Edas (ramos) baixos, um dos quais torci todo de trás para um dos lados (atrás não ficava nada bem!), com recurso a um arame grosso que também vinha no kit. Este suplício proporcionava um grande resultado ao evidenciar bem as curvas do seu Tachiagari (o baixo-tronco). Assim ela crescesse, que ia ficar, linda!

O resto da copa (a Shin), mais ou menos do meio para cima, desbastei na mesma medida para não haver um desequilíbrio na densidade de folhagem entre os ramos de baixo e esta zona. Qualquer presença ou ameaça de desequilíbrio e o meu bonsai seria remetido para a classe das plantas mal tratadas, com as correspondentes e necessárias consequências na classificação do tratador. E eu prezava-me como promissor tratador de bonsais.

Observava-a regular e prolongadamente, tentando vislumbrar um verde rejuvenescido, descobrir se haveria umas folhinhas novas a rebentar, sinais seguros de que se estava a dar bem. Fotogafava-a até, pois, tendo estudado que era de raça de crescer pouco e muito devagar, aceitava que me fosse difícil, se não impossível, ver diferenças dia a dia. Nunca descortinei um sinal dela para mim neste sentido.

Um dia, lembro-me bem, pareceu-me que estava a começar a mostrar uma cor verde mais pálida! Não, não era da luz! As fotos não enganavam!
Redobrei os meus cuidados: observação duas vezes ao dia (pelo menos), outras tantas borrifadelas (que não lhe faltasse nada!).
Mas nada! Definhou tão galopantemente que em menos de uma semana estava toda da côr da terra!

E lá foram os seus restos vegetais juntar-se aos demais, no compostor.

Se calhar cortei-lhe raizes a mais quando a mudei do seu vaso do horto para o pote bonsai (perdão, para o Hachi). Não, claro que não cortei aí mais do que proporcionalmente já lhe tinha aparado na copa. Como mandam as regras. Mas, ...não sei!

Não viveu o bastante para me tirar desta dúvida!

2 comentários:

  1. Pois eu matei um, há alguns anos atrás, da espécie Sageteria. Tinha 5 anos e durou quatro meses nas minhas mãos. Acho que foi por causa da luz (nunca consegui obter um equilibrio adequado à planta) e de um gato chamado Sonecas (que meia volta tentava escavar a terra do vaso).
    Enfim, fiquei traumatizada...

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  2. Nunca tive um bonsai. Não sei porquê... não aconteceu. Por isso não me posso solidarizar contigo nesta angústia.
    Mas morreu recentemente no meu canteiro (não lhe posso chamar jardim, um ibisco, de gande dimensão, que dava flores enormes, lindas, mesmo em Dezembro.Faz-me falta. Penso que decidiu morrer com o Carlos, que gostava tanto dela.Agora tenho um azevinho, que plantei e está a fazer muito boa figura, crescendo bem.

    Gostei muito da tua história. Senti-a.

    Obrigada

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