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domingo, 7 de junho de 2009

A Música e a Inteligência


Porque gostamos de música?
Esta pergunta é interessantíssima. Como se sabe as notas musicais são sons cujas frequências nos são agradáveis ao ouvido, como as cores são agradáveis à vista. Essas frequências chamadas “fundamentais” constituem as 7 notas musicais (Do Re Mi Fa Sol La Si) assim como na cor existem as cores fundamentais (amarelo vermelho azul preto e branco). Nem cada uma das notas musicais por si só é música nem as cores por si só são pintura. Não há razões para se gostar mais da frequência do Re que da do Sol. Para se fazer música é preciso fazer uma sequência de sons e silêncios, um ritmo (mais um!). Para gostarmos basta ouvirmos um toque de caixa bem ritmado. Satisfaz-nos o gosto básico de ritmos, de sequências previsíveis, descobríveis, e quanto mais intrincado for o ritmo (a sequência a descubrir) mais gozo nos dá adivinha-lo e - supremo gozo! - reproduzi-lo, interpretá-lo em improvisados “tambores” que se encontrem a jeito. Quem não gosta de uma boa “batida” brasileira? Desses ritmos espetaculares que eles inventaram? São lindos! Mesmo sem notas musicais! Só o ritmo!
Bom, agora se a esta sequência linda juntarmos uma outra sequência de notas musicais, gostamos ainda mais! Quanto mais complexa for a sequência a descobrir mais potencial tem de agradar. Dá-nos muito mais gozo a sequência da Primavera de Vivaldi que a do Bailinho da Madeira. Mas para isso temos de “educar o ouvido”! Esta é boa! Educar o ouvido não é mais que a nossa mente (que é quem ouve) a aprender a descobrir sequências cada vez mais complicadas! Quando apesar das várias tentativas não conseguimos entar na sequência (não nos entra no ouvido... o que acontece vulgarmente (a mim sempre) na chamada música contemporânea, a de Jorge Peixinho e quejandos...), não gostamos. Leia-se não conseguimos descodificar a sequência (o “ritmo”...). Quando a sequência é ou muito simples ou já nossa muito conhecida não achamos muita piada e gostamos menos ou dizemos mesmo que não gostamos. Ao fim de ouvir vinte vezes seguidas a mesma sequência musical até a ária das Variações Goldberg de J.S.Bach aborrece. Entrou, e é agora demasiado previsível....Para a voltarmoss a ouvir com prazer precisamos de esquecer um pouco da sequência para a relembrar (a restaurar) com gozo.
Seremos tanto mais virtuosos quanto mais complicada for a sequência que conseguirmos reproduzir. Se o consegue fazer fielmente sem se enganar é um verdadeiro artista. Só o é quem for muito inteligente.
Entre os músicos de jazz há estruturas/temas que são conhecidas/os vulgarmente pelo nome de “seventeens” . Significa apenas que o tema musical (o padrão) completo tem não quatro, cinco ou seis, etc, compassos, mas sim 17! Nem todos se atrevem a improvisar sobre estes temas...Improvisar, mentalmente que seja, sobre uma estrutura de 17 blocos a repetir algumas vezes na peça, sem enganos de entrada ou saída, não está ao alcance de todos.
Só gosta de música quem tem essa fabulosa arma da sobrevivência que é a inteligência.

1 comentário:

  1. Francisco

    Tu escreves ensinando... Preocupas-te com e entendimento que os teus leitores têm da tua escrita. E é bom aprender.

    Eu aprendi.

    Obrigada
    Manela

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